terça-feira, 5 de maio de 2009



... Eu não possuo medo. O medo é que me possui.


A madrugada transcorria calmamente e talvez isso a deixasse insuportável. Ele tentava me ninar, me embalava na sua força e sua face carrancuda deixava-me acordada, desesperada. Meu corpo pedia descanso, mas minha alma lutava para fugir e se esconder. Onde estaria os raios de sol fulminantes que romperiam aquela tortura e me libertariam para a vida? Estivessem onde estivessem esperar por qualquer forma de salvação seria dormir naqueles braços frios e me entregar a ele.

Os segundos levavam horas para passar e tudo parecia ficar exatamente como estava. Eu imóvel na cama, o tempo imóvel em mim. O medo já não pedia para entrar, sabia que venceria minha resistência e que faria de mim sua escrava, não só pelas noites, mas pelos dias. A luta era incessante, o suor escorria de meu rosto e a dor começava a mostrar-se presente, avisando-me que a luta estava prestes a acabar e eu, como perdedora, deveria render-me ao vencedor. Em um tempo incalculável, um estampido rompe o silêncio do meu quarto e anuncia as lágrimas que gritavam a derrota. O medo venceu.

Agora o possuidor de mim, forte e soberbo, invencível e dominante, ensinava-me como viver em sua presença. Eu o obedecia, sentia receio nas mínimas coisas que fazia e meu temor não era mais a morte, era a vida. Viver era medonho, as incertezas cresciam ferozmente, eu andava sobre uma corda bamba, pendendo entre as duas possibilidades da vida: confiar em todos, não confiar em ninguém. E não caia, o medo mantinha-me equilibrada naquele fio doloroso, deixando a dúvida de ser em eterna preponderância.

Outra noite chegou. Sorrateira e silenciosa, minha alma escondida no canto do meu quarto preparava-se para lutar e voltar a mim. Outra luta ferrenha e laboriosa se aproximava e o medo não parecia transigir a minha posse. Mas ele era instável e assim como chegou, podia partir. Desistir pra quê?